sábado, 27 de maio de 2017

Não vou mentir,
Meu coração se aquece e vibra
A cada eclipse.
Esse esplendor ressoa ainda
Por dias depois que fecho a porta.
Minhas mãos frias denunciam
Que o fluido vital vive
Concêntrico,
No músculo involuntário.
Mesmo assim me controlo
A mim e à expectativa,
Aprendi a sentir sem exagero,
Sem o torpor do vício
Na sensação esplêndida
Que é conectar-se.
Deveras,
A consciência integral
Que vem de ouvir o coração
Ignora aspectos mundanos
De espera desenfreada
E de desejos sempre insatisfeitos.
Sou grata
Por tudo o que vivi,
E pelo que experimento agora.
Não alimento receios e esperanças,
Só aceito o que vem
Com o coração e a alma aberta.
Não existe medo nem dívidas.
Existe pés descalços
E a vida.

Estive por dois dias entorpecida.
Os efeitos foram passando gradativamente enquanto eu socava meu maxilar em frente ao espelho.
Foi quando minha cabeça soltou-se e flutuou de helio acima dos cúmulos e minha boca escancarou verdades nao sutis.
Eu que sou fluido vi nos teus olhos a minha cor, enquanto você que crepita viu em meu véu algo familiar.
Acreditei que fogo e água podem se encontrar sem grandes revoluções. Assim enganava-me, que estupidez!
Esse é o problema com o vício.

O que me encanta em você, poeta
É sua alma tranquila
Sábia, firme e calma
Mas também tão livre,
criança
com aroma de sonho.
Quero, desejo, anseio,
Espero, desiludo, quase sofro.
Toda vez o mesmo passo
Até conseguir silenciar
Os carrascos internos,
Isolar interferências
E restar o mais puro.
É sublime,
Profunda entrega
Escolho.
Estou aberta para a vida
Meu tempo de morte já passou.

Luz que entra pela janela sorrateira
Invade a caverna escondida
Onde cantam suspiros acalorados.
As flores que velam o sono são as mesmas
Que presenciam os devaneios e os espasmos
Mas não imaginam o que anseiam os amantes.
Jardim secreto, paraíso perdido
E todos os demais clichês que se encaixem
Para tentar definir a insanidade que é o desejar.
Sutileza de tons,
de sons,
Toques e fragmentos da alma que se desnuda,
O dia em que o poeta virou poesia.