quarta-feira, 26 de maio de 2010


EU NÃO COMO CADÁVERES

Depois dos períodos de maior opressão pelos quais a humanidade em geral passou, cada qual em seu âmbito de convivência (tais como ditaduras e proibições), o que se vê agora é que os princípios iluministas tendem a se difundir novamente. Conhecimento, liberdade de expressão, cresce o sonho do ser humano contemporâneo que quer mais do que qualquer coisa convencer-se de que tem livre arbítrio, que pode fazer o que quiser, porque a tecnologia avança e assim o permite. Cada vez mais o homem acredita ter em suas mãos o poder, o rumo de sua vida, agora que não é mais "governado" por Deus, como se acreditava na escura Idade Média. Vieram os filósofos ateus e seus pressupostos. Veio o egoísmo e o interesse próprio, já que não há ninguém que julgue os nossos atos, dizem nietzscheanos e sartrianos. A única lei é a consciência, e se não há consciência, não há erro.
Ótimas idéias, não fosse a diminuta capacidade de raciocínio que a humanidade em geral herdou do passado. Aconteceram evoluções? Certamente! Porém ela não está preparada para encarar as hipóteses de não-deus e de sua inteira responsabilidade e finitude. Ou mesmo para questionar se existe a deidade, seja ela diferente, que atue conforme as forças da natureza, se é que não é ela a própria natureza. E que todos os seres fazem parte dessa natureza. Perdeu-se a noção de familiaridade com o que é diferente, perdeu-se o que restava da igualdade entre distintos, de mesma raça ou não. E se não se respeita nem os próprios semelhantes humanos, o que se dizer dos animais e plantas?
Bebês nascem puros da mesma forma, e logo são ensinados a obedecer. Sem questionar. Os superiores é que sabem e estão repassando conhecimento.
Desde pequena desenvolvi (graças a deus, à natureza, a mim ou ao que for) a capacidade do questionamento. Quando vi alguém matando minhas galinhas de estimação e depois a carne em meu prato, percebi naquele exato momento que alguma coisa ali estava errada. Estávamos comendo cadáveres!!! E eram os cadáveres das minhas amigas!


Desde então questionava tudo quanto podia. "Por quê" virou minha citação preferida. Quando não era dita para fora, era para dentro mesmo. E aí notei que era muito mais interessante perguntar a mim mesma. Quando vi que era possível viver sem ter que comer cadáveres de animais que eu amava, me vi infinitamente mais feliz. Fiz uma escolha. Por mim mesma pensei e concluí que era injusto, imoral, não fazia sentido. Não deixei que ninguém me convencesse do contrário, embora sempre me abra a discussões sobre o assunto, sem nunca encontrar um motivo plausível para mudá-la.
Quem come carne e é feliz tem dois paradigmas. O primeiro e mais raro é quando a pessoa se convence que toda a humanidade é descartável, assim como os recursos e os outros seres. Aí então a vida é uma só e há que sorver dela o máximo em todos os aspectos. Aproveita-se do que mais lhe convém. Tem consciência de que há um bicho morto em seu prato, mas por já ter refletido sobre todo o processo e não se importar com nada disso, acaba por saboreá-lo sem culpa.
A segunda e imensa parcela populacional seguinte é a que tem os olhos abertos mas não conseguem enxergar o que não lhes é sussurrado nos ouvidos. Olha para o prato e vê um delicioso churrasco, uma maravilhosa picanha, uma tenra asinha de frango. E é só isso o que vê. Carne. Sem pensar que essa carne é o mesmo tipo de carne que está em seus braços, pernas, costas. Não pensam, simplesmente. Porque já é normal demais colocarem em seu preto algo que não tem importância. O que importa é a satisfação, a saliva, os nutrientes extremamente necessários ao desenvolvimento. O que não importa é o assassinato, o fim de recursos, a desumanidade, o método. Essas pessoas são mais controláveis que as primeiras, que formaram sua opinião através do descaso para com o mundo exterior a seus domínios. São também certamente as mais ignorantes, porque questionam o que é contrário à sua convivência habitual, sem questionar os atos que lhes foram impostos. E o pior, se zangam por isso por terem absoluta repulsa ao ato de conceber um questionamento sobre sua normalidade.
Nas festas enquanto como tomate e lazanha de vegetais perguntando-me se eles não sentem muito por terem sua vida ceifada, são pessoas deste segundo grupo que me perguntam com um sorriso pretensioso no rosto: "Mas por que é que você não come carne?". Não sou egoísta a ponto de pensar só em minha sobrevivência, e nem me subestimo parando de fornecer ao meu ser o que é de importância para minha sobrevivência. Por isso o que eu respondo e que sempre choca as pessoas do segundo grupo é:
"eu não como cadáveres."

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Todo trabalho deve cansar,
todo tédio há um dia que se manifestar.
Algum dia, um dia provavelmente vai aborrecer.
Olhando o micro cérebro alheio soldado à sua felicidade infantil
parece até atraente a burrice.
(Tantos risos altos e convictos...)
Mas não,
é uma porta trancada.
Uma vez posto para trabalhar um neurônio que seja
não se pode voltar atrás.
É um caminho sem volta,
um vício sem tratamento.
É possível ser feliz pensando e vendo tudo?
Sabendo tanta coisa sobre tanta coisa?
Por quê, me pergunto,
buscamos respostas para nos saciar
se a única resposta possível a filosofia já deu:
são as questões que importam,
respostas são infinitas.
Pessoas práticas vivem melhor,
vieram para um um mundo pronto e nunca precisaram buscar nada.
São o que ouvem, o que vestem, o que moram.
Assim é fácil.
Mas para outros isso não é o suficente.
Esses outros devem ter a plena consciência de que não são uns,
são outros.
E devem se dar o direito de se deprimir às vezes,
de errar, porque estão fazendo tudo sozinhos,
de se entristecer com a falta de complacência alheia,
de se enraivecer com o vazio crescente ao seu redor.
Sim, porque não são máquinas.
Sim, porque precisam buscar algo para si,
nem que tenham que mudar meio mundo.
E algum dia, certamente as forças se esvaem.
Pensar positivo também cansa.

Não é o fim do mundo.
Ainda há dias para se viver.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

São tantas e tantas as vezes que me sinto ridícula!
Até parece (no meu pensamento) que pra você cada atitude minha é tão importante quanto pra mim.
E que quando faço alguma idiotice ou quando algo nos leva a isso é o fim do mundo.
Se ontem lhe dei a mão, falei bobagens e rimos juntos
e hoje é exatamente o oposto,
nada posso fazer a não ser sentir-me ridícula.
Eu tive que me acostumar com muitas coisas novas.
Eu queria novidades, mas algumas foram coisas que não consegui evitar.
Ainda não sei lidar bem com isso e duvido que alguém saiba fazer tudo certo.
O problema é que parece que já me acostumei,
mas por vezes penso que não.
Outro problema é que desde sempre
a única pessoa que eu feri foi a mim.
E não foi falta de amor próprio,
a pincípio.
O que me aconteceu foi coação disfarçada de respeito.
Me disseram sem palavras que eu é que estou sempre errada.
Tomava minhas surras e em vez de revidar eu arranhava meus próprios braços pensando em sangue.
Houve dias em que eu só queria morrer.
Eles voltam de vez em quando.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Não vou te consolar.
Vai ser difícil me ver de novo sentada ao seu lado segurando sua mão e te dizendo que isso passa.
Por mais solidário, por mais necessário que possa ser um ombro amigo nessas horas, eu sei que no fim não é a minha mão que você gostaria de segurar, não é ela que vai te deixar um pouco mais feliz.
E todas as vezes que fiz isso a única coisa que você sentiu foi pena de si mesma.
É um sentimento complicado, eu sei. Quando estive assim quis muito estar com quem gosta de mim. Mas nada supria a falta de quem mais eu queria.
Entendo minha amiga, quando se tem um amor desesperado e ele não está, só se acalma o sentimento com o tempo. Ou com a possível volta do amor.
Aguarde. Ou crie ânimo para não ver sua vida ficar presa ao passado.
Você é das minhas. Sei perfeitamente que pode lutar.
Não tenho amigos. Tenho pessoas que me são caras.
Algumas dessas não sabem que se encontram no meu círculo de afetividade.
Não precisam saber.
Poderão contar comigo assim mesmo.